A mãe desesperada e o filho baleado

Isabelly Emiliano
4 min readAug 2, 2021

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Era noite de quinta-feira, estava uma brisa calma na rua. Uma mulher, mãe, estava no quintal de casa quando recebeu a notícia de que seu filho caçula havia sido internado no Hospital da Restauração (HR) em estado grave.

Maria Leite, 55 anos, mora em uma casinha no final da rua Dezessete, na Vila Social de Cajueiro Seco, Jaboatão dos Guararapes. Lá ela é conhecida por todos os vizinhos, possui uma pequena barraca no terraço de casa há pelo menos 22 anos. Lá ela vende algumas guloseimas e doces com o marido.

“Essa vendinha ajuda muito aqui em casa, já dá para comprar um pão ou pagar uma conta de água ou luz.”.

Nessa noite Maria estava fazendo picolé da fruta para abastecer a barraca e suprir as vendas do dia seguinte.

Rapa coco, como é conhecido por todos na região, marido de Maria, chegou em casa suado e vermelho. Bateu o portão forte sem nem ter percebido.

“Maria! Maria… Acharam Robinho”.

Os pais abrigavam Robson, de apelido Robinho, seu filho mais novo.

“Depois do trabalho ele sempre vem para casa, não é final de semana. Quando é final de semana ele fica na casa da noiva. Imagine a minha preocupação, Rapa Coco ligou para a menina e nem ela tinha visto meu filho”.

Robinho tem 27 anos, pai de cinco crianças, trabalhava como estoquista num supermercado em Piedade. Todos os dias ele voltava do serviço de bicicleta. Passava por Jardim Piedade, Nova Divinéia, para enfim chegar na rua de sua casa. Enquanto fazia esse caminho ele foi perseguido por dois homens que estavam montados em uma motocicleta.

Eva, vizinha de Maria é o portal de notícias da localidade. Nada acontece com as pessoas na Vila Social de Cajueiro Seco sem que ela saiba. Falou: “minha filha, ele começou a ser seguido ainda quando estava por Jardim Piedade, Rapa Coco me disse que Robinho largou a bicicleta e saiu correndo até chegar em Nova Divinéia, mas aí já tinha levado dois tiros.”.

Era uma correria, um alvoroço na rua. As pessoas se escondiam para não serem atingidos por algum disparo. Robinho foi atingido nas costas duas vezes, tentava correr apesar de sangrando muito. Ele entrou na rua Quinze ao lado da Paróquia Nossa Senhora do Carmo. Muitas pessoas na rua olhavam com medo, à porta entreaberta disseram que ele cambaleava.

Nessa rua tem um córrego de esgoto, extremamente poluído, que é aberto indo da rua Doze a Dezessete. Lá havia lixo, animais mortos, urina, fezes entre outros resíduos prejudiciais à saúde humana. Tomou um último tiro próximo ao esgoto e se jogou ali dentro. “Ele se jogou porque tinha era medo de morrer, os caras acharam que ele tinha morrido. Mas, tu sabes né: vaso ruim não quebra e aquele ali nunca foi peça boa.”.

Teco, seu irmão mais velho, chamou uns amigos e juntos tiraram o corpo inerte da água. Contudo, Robinho não morreu. Teco acionou o Samu que levou o irmão para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barra Jangada.

Chegando ao hospital, os plantonistas constataram que o jovem ainda tinha vida. Eles fizeram a assepsia do corpo e procuraram suturar os ferimentos. Sem êxito, pois a UPA não tinha máquina necessária para assegurar que os médicos retirariam as balas sem perfurar algum órgão. Encaminharam-no para o HR, na Avenida Agamenon Magalhães, Derby, Recife.

Sabendo disso, Maria e seu marido foram histéricos para o hospital. Ela chorava muito, estava preocupada, com medo de perder o filho e querendo saber notícias. O médico que estava cuidando do caso desde que Robinho chegou foi falar com ela: “o caso é difícil, retiramos todas as balas e não tem nenhum órgão ferido. Mas o corpo está infectado, o caso não é difícil por causa dos tiros, mas sim porque ele se jogou no esgoto, onde tem restos de comida, animais mortos, fezes…”.

Como o jovem foi baleado antes de dar entrada na UPA, é protocolo da instituição chamar a Polícia Militar. Os profissionais conversaram com Rapa Coco, que afirmara que os disparos eram para matar e a principal suspeita é envolvimento com drogas.

A mãe segue ainda muito abalada e desesperada com a situação. “O que eu fiz de errado? No início era Teco o errado, agora Robinho está envolvido com droga. Ele tá morrendo naquele hospital e as crianças dele como fica? Foi culpa minha, eu podia ter sido melhor.”.

Robson ainda está internado na UTI do HR em estado grave, apresenta sinais de consciência e a expectativa é de recuperação rápida.

Rapa Coco vendo o sofrimento da mulher disse que não quer mais o filho em casa: “Ele escolheu essa vida, sair do hospital vá para onde quiser, Maria quase teve um troço no coração porque ele tava fumando maconha por aí. Ele que aprenda que tem crianças para dar dinheiro e exemplo. Esse exemplo de drogado não veio de casa, ele não pisa na minha casa.”.

Eva, o portal de notícias ainda opinou: “Eu espero que ele não volte mais, porque tenho certeza que se ele aparecer os homens vão achar e acabar o serviço.”.

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Written by Isabelly Emiliano

Escritora muito antes de ser jornalista. Acabei de escrever um livro que precisa ser publicado. Enquanto o dia não chega, você pode ler alguns textos aqui.

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