Carta aberta à ansiedade
É complicado, o relacionamento com ela é intenso e, por muitas vezes, doído. Não gosto de falar sobre, muitas vezes isso me amedronta.
Sou só mais uma? Faço parte dos 86% de brasileiros que têm algum transtorno mental, como depressão e ansiedade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e pronto? É isso que sou: ansiosa.
Eu tenho ansiedade, não sou.
Não falo sobre isso, ou gosto. Muitas vezes me amedronta ser condenada pelo problema. Existe uma sombra que faz companhia durante todos os momentos. O dicionário Michaelis, define como:
“Sofrimento físico e psíquico; aflição, agonia, angústia, ânsia, nervosismo.”
É estar assim o tempo todo. E não aguento isso, não gosto disso.
Você, ansiedade, me impede de ser quem sou o tempo, de mostrar para os outros como sou: meu sorriso mais verdadeiro, crítica mais veemente, gosto mais peculiar. Ninguém conhece. Não me permite entender o que estou sentindo! Na maior parte do dia, senão nele todo, sou insuficiente.
Não consigo perceber se sou amada, ao menos pelas pessoas da minha família. Pergunto-me a todo tempo se fiz algo que os magoou. E se eles não me ama, por que as pessoas de fora deveriam fazer?
Durante as 24 horas do dia, sete dias por semana, fico me questionando se fiz algo errado: “será que vão me deixar porque disse isso?” Não consigo me livrar de você, quanto mais tento, me machuco, fica maior, pesado e cada pancada traz feridas. Preciso de tempo para que cicatrize, mas não consigo. Doí o tempo todo.
Você me faz chorar mais do que eu gostaria, passo a noite inteira molhando meu travesseiro, silenciosamente e não consigo buscar ajuda, porque me sinto indigna disso. Perco os movimentos, não sei o que fazer com o meu corpo, ele quer ficar deitado, sedentário e incompleto, e essa é a sensação que tenho: está sempre faltando algo.
Você me faz pesar todas as palavras, mesmo as cheias de amor. A sua voz, na minha mente, diz que não sou amada, me faz questionar sobre. O meu peito fica apertado, aflito, angustiado, começo a tremer. Minha mão, braço, as pálpebras batem violentamente, fico assustada por não conseguir parar. Peço para o corpo se controlar e piora. Tudo é aterrorizador, o levantar de voz, a rejeição, a reprovação, o almoço que queimou, a receita que não deu certo.
Ansiedade, você faz minha alma doer, isso acontece o tempo todo. Cada crise, me machuca ainda; o cabelo fica ressecado, cada músculo travado e dolorido. Tenho bruxismo por sua causa e tudo piora quando meu dia importante chega, quase perdi alguns pedaços de dentes quando chegava a data para apresentar o trabalho de conclusão de curso. Faço uso de relaxantes musculares semanalmente, posso me considerar dependente desses remédios. Por sua causa, meu intestino desregula, o rosto enche de espinha, eu me sinto franca.
É isso que você faz comigo! O pior é saber que não consigo te mandar embora. Quero que me deixe.
Não consigo ser eu mesma.
Eu sorrio, saio e faço tudo normal, como se você não estivesse aqui. Porém, continua. Penso 50 vezes, antes de ponderar se é possível falar o que sinto, expor a minha opinião. Não aguento quando me cala, pare de tapar minha boca ou falar por mim.
Não me transforme em você. Imploro que pare.
Sei que não vai embora, mas se controle como uma gastrite.
Se você leu até aqui, bate palminha!
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