Doar é um ato de amor tanto quanto de dor

Isabelly Emiliano
3 min readNov 11, 2019

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doar é um ato de amor tanto quanto de dor

O cachorro que ganhei aos 14 anos tinha um diferencial que nenhum outro, antes dele, teve. Dizem que animais agem por instinto, e sobre a opinião de outros profissionais não posso discordar. No entanto, especialmente desse quadrúpede, que em pé nas patas traseiras supera os meus 163 cm, posso falar sobre os momentos de empatia.

Empatia, segundo o dicionário, é a faculdade de entender emocionalmente o outro.

Talvez tenha sido só instinto, mas quando eu estava triste, ele ficava ali com o focinho encostado no meu joelho quase chorando. Não latia, apenas olhava para cima, como se esperasse que eu ficasse bem num piscar de olhos.

Doar é um ato de amor tanto quanto de dor

Doar pode ser um ato de amor, mas doeu e muito.

Max, da cor de um rottweiler e com o porte de um pastor-alemão, foi o meu bicho de estimação preferido. Chegou para mim numa caixa de peças automotivas, na época tinha o focinho tão roliço quanto a sua barriga. Adorava o escuro, se escondia atrás do sofá, e ali ficava preso, de tão gordo que era.

Os dias se passaram, a medida que completava mais um mês, ficava maior. Passeei com vários tipos de coleiras, até que tivemos que adotar o enforcador. E eu não era forte o bastante para continuar exercitando-o.

Max, assim como eu, era hiperativo. Não parava quieto, quando ouvia o tilintar das correntes, corria de um lado para o outro, quase que trotando. E pulava, tentando subir o muro.

A falta de exercício e o estresse fez com que desenvolvesse algumas características agressivas, em alguns momentos (provavelmente quando se sentia ameaçado). Que só piorou com a mudança. Maximus saiu de um lugar razoavelmente grande para um que nem cabia uma cama.

Doía vê-lo ali.

Os donos oficiais tentaram arrumar outra família, apenas se pudessem dispor de um largo ambiente e paciência para domar um cachorro adulto bravo. A tarefa foi mal-sucedida até que o namorado intrometido da vizinha colocou o dedo na situação, convidou um adestrador para conhecer o cão. Mesmo tendo uma experiência ruim, resolveu que levaria Maximus.

Doar é um ato de amor tanto quanto de dor

Demorou algum tempo, quase que os donos oficiais desistiram de deixa-lo ir, mas chegou o dia que ele foi embora.

Foi quando percebi que doar meu cachorro doía muito.

Doar é um ato de amor assim como de dor.

Tirá-lo de casa machucou-nos, de igual forma. Enquanto Max latia pedindo socorro, eu estava chorando. O “doguinho” se esforçava em rosnados para não ser amarrado na caminhonete e eu me tremia quase sem respirar, com o peito subindo e descendo muito rápido.

Maximus, como batizei por causa do meu filme de animação preferido, me olhou pela última vez com a mesma cara de bobo que sempre teve. Lembrei de todas as vezes que minha mão pendia no ar ele corria para pedir carinho e ficava se deliciando com a coçada.

Diante das condições e a falta de espaço, a doação consciente, quando procuramos famílias que realmente possam cuidar do animal, é sinônimo de amor. Mesmo assim…

Olaf, de Frozen, disse:

Amar é colocar as necessidades de alguém acima das suas.

Por isso, mesmo doendo, foi o momento de deixá-lo ir.

Adeus, Maximus.

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Written by Isabelly Emiliano

Escritora muito antes de ser jornalista. Acabei de escrever um livro que precisa ser publicado. Enquanto o dia não chega, você pode ler alguns textos aqui.

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