Escrevendo com sotaque nordestino
Eu sou nordestina, nasci, fui criada e continuo morando na Região Metropolitana do Recife, embora já tenha pensando em me mudar diversas vezes, desde a época do vestibular.
Esse plano nunca foi nem pro papel, visse. Quanto mais me aprofundava aqui, conhecia pessoas das diversas regiões do estado, ficava: “meu Deus, o nordeste é rico”.
Comecei a escrever um livro sobre restrição alimentar, em suma sobre a doença celíaca (ou como muito tabacudo chama “intolerância ao glúten”. Para quem pesquisa sobre o assunto, Curitiba — PR é considerada a capital do celíaco, consequência do turismo inclusivo. Só que eu nunca fui até lá, não conheço os pontos, nem a linguagem.
Então, por que não escrever sobre o Recife? Catei dicionário “pernambuquês”, pontos turísticos e tudo mais, diga-se de passagem, sou recifense, mas não falo “borocochô”, “prenha”, “febre do rato”, “cafuçu” ou “cabra”.
Escrever com sotaque nordestino é, antes de mais nada, entender que o Nordeste é heterogêneo, diferente.
Sou de Pernambuco, visse. Mas, aqui não é igual a Maceió, Rio Grande do Norte, Paraíba ou Sergipe. São nove estados diferentes, com culturas e aspectos sociais diferentes.
- Aqui, por exemplo, é a capital do Forró, temos o Frevo e a Tapioca como Patrimônio Cultural.
- Lá em Alagoas, eles têm o Bumba meu boi, o coco alagoano e o caboclinhos
A única coisa que é super comum em todo o nordeste é o fato de termos 2 sóis para 1 cabeça.
Escrever com sotaque nordestino é dar visibilidade a diversidade
Existe um “mói” de sotaque no Brasil e isso é a identidade de um povo. Quando escrevo sobre o nordeste, dou visibilidade àquela região, às pessoas que vivem ali. E possibilito a sensação de reconhecimento em cada nordestino que esteja lendo.
Imagino assim, um celíaco do Recife, abre o livro sem glúten e começa a passear pela própria cidade, vê as dificuldades da protagonista que são muito parecidas com as dele e se reconhece.
Tenho orgulho do Nordeste, lar de grandes nomes, como, Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Luiz Gonzaga.
E de nomes que estão crescendo hoje.
Toda vez que escrevemos com sotaque podemos dar exemplo aos pequenos nordestinos que têm o sonho de ganhar o Brasil.
Ah, nos meus textos sempre têm: “oxe”, “visse”, “mainha e painho”, “arretado”, “arrudeia”, porque é dessa forma humana, sutil que eu equilibro minha linguagem para ser entendida por leitores de outra região.
Esse texto surgiu, originalmente, de um post no IG publicado no @bellyemiliano