Na rua ou na palafita: uma questão de geografia
O centro do Recife e sua região metropolitana é uma coisa louca, as pessoas saem cedo de casa para trabalhar ou estudar, pegam ônibus ou vão de carro. No corre-corre da vida passa despercebido quem não sai de casa porque nunca entrou, quem não pega o trânsito para trabalhar porque seu trabalho é na própria rua que vive.
Vive não, a palavra certa é sobrevive.
Era sábado, 20 de abril de 2018, a conhecida Pracinha de Boa viagem estava tranquila, os quiosques de comida estavam começando a abrir. Três mulheres sentadas próximas ao cercado da Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem comiam pastel e conversavam quando uma pequena menina chegou pedindo dinheiro.
- Tia, me dá uma moeda para comprar um refri.
Uma mulher deu uma moeda de um real, a outra virou o rosto e a terceira fingiu que nem estava vendo.
- Isso é um incômodo, a pessoa pode nem comer em paz que já chega um pivete pedindo. A polícia devia ver isso e afastar esse povo dos pontos turísticos do Recife — disse a terceira.
Não existe pessoa de rua, mas sim em situação de rua, claramente não estão lá porque desejam. Segundo o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em 2016 o número de pessoas que se encontram nessa situação já era superior a três mil. Esses apenas os que não têm nem um teto para dormir.
Indo para o centro do Recife de metrô, entre as estações Imbiribeira e Joana Bezerra, há dezenas de conjuntos habitacionais feitos com madeira barata. E geralmente essas construções são erguidas próximas a água dos rios, as famosas palafitas, sinônimo de desordem urbano e miséria. Apesar da tentativa do governo de erradicar no início dos anos 2000 elas ainda permanecem por causa:
- Dos programas sociais falhos;
- Falta de moradia de qualidade descrita na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
-Falta de oportunidade (capacitação e desemprego);
- Falta de empatia.
“Senhor, protege do frio e da fome. Na palafita ou na rua é tudo uma questão de geografia.”.