Nem a Razão e Sensibilidade se livra da fofoca
Elinor e Marianne Dashwood são filhas do segundo casamento do finado Sr. Dashwood. Como as moças e sua mãe não possuem um relacionamento harmonioso, ou sequer agradável, com a nova Srª Dashwood, mudam-se para outra casa, longe de sua antiga. Cabe às mulheres a adaptação da nova realidade, tendo então que corresponder ao ideal necessário às do gênero, naquela época, ou seja, no século 18. É um romance bucólico que acompanha, com certa normalidade as perspectivas de vida, superação, interesses amorosos e, enfim, casamento.
O nome de Jane Austen é famoso ao redor do mundo, autora de Orgulho e Preconceito, tem uma narrativa que Tom Severin, personagem do romance de época contemporâneo “Pelo amor de Cassandra”, escrito por Lisa Kleypas, define como: “duas pessoas se apaixonam depois de um terrível mal entendido e têm muita conversa a respeito. Um dia eles se casam e fim.” Esse é mais um romance de Austen repleto de falta de comunicação entre os personagens que se torna desconfortável e faz com que o leitor se pergunte se há mesmo “final feliz”.
O pior de tudo é que é extremamente real. Não temos nobres, viscondes e duques que prometem nunca se apaixonar e a reviravolta é exatamente ao contrário. Austen foi uma completa fofoqueira da época, dando voz a personalidades mais reais do que a de qualquer vizinho do subúrbio brasileiro.
Após a última página, é possível inspirar pesadamente e reclamar de personagens insossos e pouco cativantes, no entanto, após a análise mais detalhada de cada particularidade dos personagens tido como principais. A demasiada sensibilidade de Marianne, o excesso de racionalidade e pensamento de Elinor, a hospitalidade de Sir Jonh, a frivolidade de Fanny e Lady Middleton, dentre outros.
Nessa época, Austen fez uso da narração onipresente, o que pode ser incrivelmente chato e imparcial, afinal parece que uma melhor amiga fofoqueira está contando uma história para tentar fazê-la parecer interessante. Vemos o narrador como um deus que conhece o que todos estão sentindo ou pensando, mas na verdade, nunca se aprofunda. Portanto, isso faz com que o livro seja superficial demais.
O estilo da autora continua o mesmo de Orgulho e Preconceito, com poucos diálogos, poucas respirações, ouso dizer que, essa mulher que tem uma fama tão grande, mesmo após centenas de anos sua morte, era uma fofoqueira.
Nada escapa da fofoca, é um livro pouco atrativo, mas com uma história muito mais real do que as escritas por Julia Quinn, Lisa Kleypas ou Sarah Maclean. É uma história que não tem vilão ou mocinho, mas pessoas normais que sofrem, lutam e tentam matar o sentimento profundo que guarda e nutre dentro do coração.
Vemos o egoísmo com Willoughby, o desespero amoroso com Marianne, a busca pelo conforto com o Elinor e o amor romântico mais puro e altruísta com o Coronel Brandon. E em cada um desses personagens fictícios é possível imaginar um colega ou amigo neles.
É uma história real, e por isso é uma fofoca.
Embora haja outras personas, são coadjuvantes poucos interessantes. Só desejava que a visão dos personagens principais fossem menos julgadoras, mas é um crédito que volta ao ponto da narração onisciente. Embora, Austen seja considerada uma mulher à frente da sua época, ainda irrita a constante briga entre mulheres pela atração de certo homem e a facilidade em fazê-las parecerem egoístas, condescendentes e decepcionantes, uma falha que também acometeu Lizzie Bennet.
Não é um livro fácil, talvez seja necessário muitas respirações profundas para lidar com essa realidade. Contudo, deve ser lido em algum momento da vida, vamos falar sobre a ideia e a realidade do amor, que na verdade é uma busca por conforto e pelo lugar certo. Assim, notamos o casamento feliz dos nossos melhores amigos, nossos vizinhos e dos nossos pais.
O amor vem e não é fácil ou simples, o caminho até ele pode vir carregado de decepção, mas o que for, vai acontecer. As Dashwoods são nossas amigas e é um prazer se deleitar com a história, ao menos se o leitor gostar de uma fofoca, assim como a sociedade inglesa gostava.