Nunca Fui Escolhida
A verdade é essa meu amigo, nunca fui escolhida. Quando criança estudei em uma escola pública onde me candidatei duas vezes para representante de turma, e ninguém votou em mim. Digo e repito por que nem eu votei em mim. E durante todo o tempo levei na esportiva, principalmente por que nunca gostei de servir de exemplo para nada, mas, no fundo tinha medo de isso me acontecer novamente. Ao longo dos anos, nada foi igual, torcia para que nada acontecesse, mas o que houve foi diferente: eu me apaixonei. E o resultado não foi outro, não fui escolhida para a vaga de namorado do cara.
Parei para refletir, e me vi como a Josie Geller, personagem da Drew Barrymore no filme Nunca Fui Beijada. Estava vazia e me sentia como se nunca tivesse realmente sido amada na vida. Tinha tudo e ao mesmo tempo não tinha nada. E nada me adiantava, pois eu queria ser a escolhida.
Eu era uma Josie Geller diferente, já cheia de decepções. Sentia que não podia jamais ser escolhida ou sequer ter um amor que fosse recíproco. Passei a me preocupar, fazer de tudo para chamar atenção e analisei outras pessoas da mesmo tribo. Às vezes conseguia ser bem egoísta, afinal é como se diz naquele famoso poema, intitulado de Migalhas de Amor :
“migalhas de amor não dou e nem quero.”.
A verdade era a seguinte: se não for para ter o amor completo eu nem quero, por que comigo tem que ser intenso e verdadeiro.
Percebi que todo mundo tem um vazio no peito, e é incrível como achamos fácil preencher com algo passageiro, como a protagonista do filme alemão Love Me. Ela, assim como eu tenta suprir essa falta de amor com uma impulsividade sem igual, cheia de marra, sexo e comida. E tudo que queremos e ser reconhecida por alguém como sua escolhida.
Fiz terapia por alguns meses e a psicóloga sempre dizia que era importante a presença da família, mas no meu caso como ela poderia ficar perto se para ela tudo que eu sentia era uma grande piada. Isso mesmo, meu irmão tinha um bordão, este que me ofendia diariamente com “ninguém te quer, B.” Já minha mãe jogava na minha cara, os valores de dinheiro que gastava por mês e ressaltava que mesmo bem arrumada eu não conseguia descolar um beijo na boca. Durante anos, lidei com isso, com lágrimas nos olhos.
Pelas pessoas que eu chamava de amigos, nunca fui do ranking dos dez primeiros. Sabe essas coisas de ser chamado para o cinema, nunca acontece comigo, quando raramente chega a acontecer, está tão em cima da hora, que parece que eu sou o escape. Um exemplo melhor ainda é se eu convidasse até dissesse que iria pagar, mesmo assim, rolaria de um viajar, outro achava uma festa mais interessante, e nisso eu convidei 16 pessoas e fui assistir o recente filme da Blake Lively, Águas Rasas, sozinha.
Não fui escolhida para ganhar um carro dos meus pais apesar de ter passado em três faculdades. Ia mesmo era no “expresso canelinha” por que segundo a minha mãe eu não era magra o suficiente. E se eles me dessem um carro eu viveria em um sedentarismo e continuaria com 75kg e não seria escolhida por ninguém. Acontece, né?
Há um fato que sempre relembro. Talvez seja o marco de tudo que vivi, no ensino fundamental houve uma feira de conhecimento, nem precisa chutar, é claro que eu fiquei de fora. Todos os grupos estavam apinhados de seis ou sete pessoas. Eles conversavam em um amontoado de vozes que parecia ser uma só, enquanto eu escondia o choro. Uns dois minutos depois a professora notou minha presença e me jogou no grupo de pelos menos cinco meninos que eu detestava. Eu embora com cinco pessoas estava sozinha.
Quando criança tive uma melhor amiga linda, aquelas de olho azul e cabelo loiro, que quando sorri deixa o mundo mais iluminado, mas ela me abandonou. Voltei a vê-la dez anos depois, no meu aniversário de 15 anos, nos tornamos completas estranhas.
De uma maneira geral eu me sentia e era excluída. Era aquele velho ditado: “ninguém liga.”. Eu ligava, por isso sofria tanto que as borboletas, flores ou qualquer coisa que metaforicamente podem viver no corpo de uma mulher sempre morriam. Nada de esperança. Às vezes morta e fria.
Acabou que me acostumei, vivi na solidão e notei o privilégio dado pelo divino. Pude me conhecer, com meus momentos de solitude. Não muito feliz. Porém, decidi aceitar e aproveitar, assistir filmes, ir a exposições fotográficas, sair, tudo sozinha. Não precisava mendigar companhias ou escolhas, por que acima de tudo preciso me escolher diariamente. Preciso e faço isso todos os dias. Pela primeira vez fui escolhida.