Não quero fama, quero um prêmio
Se quiser julgar, fique à vontade. Eu não ligo.
Escrevo para pessoas, para ser lida e, principalmente para ser lembrada. É desse jeito desde sempre, não pretendo trocar só porque me disseram que era bom curtir o processo. Geralmente não é, o processo de escrita precisa de pesquisa, escrita, reescrita e (re)estímulo, que muitas vezes causa dor e vulnerabilidade (que pode ser toda canalizada na produção).
Quando criança, já sabia o que queria, mesmo que fosse escolher era diferente do diploma guardado na gaveta. Acontece que, ao invés de direito, cursei jornalismo e fui aluna de grandes nomes premiados e que inveja. Queria ser como eles, ganhar um Jabuti, Cristina Tavares ou até um Nobel de literatura. Reconheço que o último é pretensão excessiva, e com 98% de chance de não acontecer.
Naquelas aulas, percebi que escrevia nada, mesmo que praticassem há, pelo menos, 10 anos. Só reproduzia um monte de vozes dos outros que eu costumava ler. Foi ali, na academia que aprendi mais do que colocar palavras numa folha em branco, entendi a necessidade do planejamento, pesquisa, hierarquia de informação, descrição e, finalmente, desenvolvi a minha escrita humanizada.
Tudo isso, só me fez querer, ainda mais, premiada.
Tenho me perguntado há semanas: “quero ser uma escritora best-seller ou premiada”, na verdade, gostaria de ser os dois e pagar os boletos com o lucro. Só que na ideia de só uma escolha; prefiro o prêmio. Por quê?
Eu quero ouvir minha mãe mandar vários áudios no “zap”, falando para as amigas que a sua caçula ganhou um prêmio e deixar isso registrado na estante da sala, pra todo mundo ver. Exatamente como fica a minha réplica de jornalismo. Quero ver meu pai mostrar minha foto, rindo e chorando ao mesmo tempo, para os amigos do trabalho e dizendo todo orgulhoso:
“Sabe essa menina aqui com esse prêmio? É minha filha!”
Quero meus melhores amigos, Douglas e Gaby, me panfletando nas redes sociais, mesmo que não tenham lido o livro e publicando que sou a melhor escritora do mundo.
Acima de tudo isso, quero deixar a minha marca, o meu legado, a minha identidade nesse mundo.
Não escolhi uma aventura, nem um romance clichê. Nesse momento, estou contando a história de, pelo menos, 900 mil brasileiros e eu gostaria que quando publicado e divulgado, fosse premiado. O que é uma história de não-ficção sobre a doença celíaca, conseguir isso, seria dar mais visibilidade para a patologia e para a minha marca.
Escrevo todos os dias, estudo mais e leio tão intensamente como se amanhã não fosse ter outra oportunidade para ler, na esperança que meu texto seja digno de prêmio. Para que a minha narrativa faça o leitor sentir na pele o que estou sentindo, afinal trabalho mais com a emoção do que com todo o resto.
É por isso que me esforço tanto para não ser igual, desenvolver minha voz e ter a clareza para melhorar a experiência do leitor.
Eu queria que pagasse meus boletos, quem sabe um dia. Enquanto isso, ainda estou mirando o prêmio.
Assim como comecei, vou terminar com: pode julgar, se quiser.
E ai, gostou?
Escrevi um livro pra minha avó. Se quiser, pode ler! É só clicar ali embaixo.