O filho vai embora, eu acho
Há momentos na vida que são de partir o coração, sei bem como é. E, provavelmente, o que aconteceu comigo já fez com que muitas pessoas chorassem. É, bem perdi meu amiguinho. Esse meu amigo em questão anda de quatro, não fala e é preto e marrom. Bem, eu disse que ele não fala, mas ele late e muito. Meu amigo é companheiro e chegou lá em casa com poucos dias de vida, talvez um mês, era tão pequenininho que cabia numa caixa.
Esse meu amigo, me deixou lhe dar um nome, Maximus, como aquele cavalo branco de Enrolados, aquele filme da Disney, tá? Minha mãe toda do avesso, querendo homenagear aquela novela famosa de Carminha, Tufão e Max, a tal da Avenida Brasil, cismou em chamar o “doguinho” de Max.
E infelizmente (para mim) o apelido que pegou.
Vivemos bem por quase sete anos, até que a minha avó morreu e deixou de herança uma casa com becos minúsculos e nenhum quintal para a minha mãe (e nenhum dinheiro). Estou dizendo isso só porque quando nos mudamos para essa casa, ele começou a nos estranhar quase que o tempo todo.
Eu morria de pena..
E pra piorar, não podia fazer nada para ajudar Max, já que eu fiz a beleza de aceitar fazer uma cirurgia bem antes da mudança e não podia ficar nem 20 cm perto do meu “doguinho”.
É pra dizer, né?
Meus pais resolveram doar o meu rottweiler de seis anos e dez meses. E começaram as procuras por um possível futuro dono de um cão adulto que estava rosnando até para quem lhe dava comida. Se bem que eu havia dito pros meus pais que isso ia acontecer quando levassem Max para um espaço tão pequeno. Cada dia que passava eu evitava colocar um anúncio no Facebook.
Dizem que doar é um ato de amor com o cãozinho, quando não se tem mais condições de criar, mas partir meu coração para fazer isso é uma tremenda crueldade.
Pode crer, até ofereci meu quarto:
“Vai, painho, solta ele. Ele pode dormir no meu quarto”
Mas, para meus pais isso parecia uma brincadeira. Minha mãe vive reclamando que a casa ta suja, tá fedendo a xixi e ficava reclamando que eu não fazia nada pra limpar a área do cachorro.
Oh, amor, eu não posso pegar peso, varrer, lavar, eu estou operada. Ainda estou ponteada. Era isso que eu queria dizer, mas sem tempo, irmão.
O coração chega doí quando escuto ele chorando. E a ideia de deixa ele ir embora me aterroriza, olhe bem é o único filho que já criei, e olhe que nem foi tão bem já que tá bem rebelde e rosnando pra todo mundo. Espero que você entenda, né, que ninguém explica o amor de uma mãe.
Tava tudo bem, até que o namorado intrometido da vizinha igualmente inconveniente trouxe um adestrador que tinha interesse no pobre do cachorro. O cara disse que tinha um hotel bom pra cachorro, uma fêmea esperando para ter a sua primeira vez com o meu bebê e ia levá-lo para um fazendeiro.
“ Ah, mas se vai adestrar, ele pode ficar solto aqui” eu disse
“ Claro que não”, minha mãe respondeu
“ Por quê?”
“Porque não, ué!”
Provavelmente ele vai embora logo. Não sei se vou conseguir dar adeus, até porque não tenho dias suficientes para chegar perto dele ainda neste pós-operatório.
Então tudo certo, ele vai embora, ter uma nova família e talvez eu adote um gato.
(Mas, só pra deixar avisado, tenho medo de gatos).