O meu garoto errado
A música tem a enorme possibilidade de ativar a memória afetiva, uma melodia que lembra a infância ou uma letra que recorde aquela sensação estranha de tanto tempo atrás. Por meio dela é possível reviver eventos que não queria ter participado nem pela primeira vez, foi bem assim. Há dias, com a febre da Manu Gavassi no Big Brother Brasil 20 (BBB), cedi à adolescente que habita em mim e coloquei no Youtube a icônica música Garoto Errado, a qual ouvi intensamente quando estava no auge dos 12 anos.
“Porque você é o tipo certo de garoto errado
É só você aparecer
Pra eu perder a fala e a confusão acontecer”
Com cada verso que era captado pela minha audição, não lembrei daquela idade, mas sim de um episódio especial quando encontrei o meu garoto… Que infelizmente era o Garoto Errado. A composição do início ao fim. Assim que foi dado o play, a música me fazia relembrar aquilo, ainda preciso de alguém para me explicar o que faço para não me sentir assim.
Só para adiantar, o meu garoto errado trouxe nojo.
O ano era 2015, estava quase prestando vestibular e ainda, julgava eu, muito apaixonada por alguém quando o conheci. Após dois ou três meses no pré-vestibular, deixaram comigo as redações dos alunos que não haviam ido naquele dia. Diante de cerca de 20 textos e 40 minutos num trajeto para chegar em casa, e como uma boa futura professora de escrita, li cada uma daqueles textos.
Bati o olho e dei concentração redobrada para um dos que tinha nota alta, quase como as minhas. Era a redação dissertativo-argumentativa do meu garoto errado. Ainda naquela noite estava determinada a conhecer o boy e fazer flerte de guerrilha.
No dia seguinte, ele me procurou para pegar o seu texto. Como uma pessoa motivadora, ao tirar o papel da minha pasta, elogie-o muito sobre a escrita:
“Tu escreve muito!”
“Se é tu dizendo isso, eu acredito. Qual a tua maior nota?”, perguntou.
“10.”
“E tu vem dizer que eu escrevo muito?”
“Ah, quero casar com um boy que saiba escrever assim.”
“Então, quando me formar a gente se casa.”
Começamos a nossa amizade baseada nesse diálogo. O contato, flerte e o grude se intensificava a cada dia, fazíamos piadas sobre tudo e sempre voltávamos juntos para casa, embora nem sequer pegávamos o mesmo metrô, eu usava a linha sul, ele a centro.
No entanto, uma amiga em comum, a quem apelidamos de Aquário, flertava descaradamente com ele, mesmo sabendo do meu intenso interesse pelo garoto errado. Vez ou outra eu sentia muito ciúmes, foi quando percebi que já havia esquecido a minha última paixão.
Será que são mesmo reais
Os sinais que eu percebi?
Talvez eu esteja me iludindo
E você não esteja nem aí
Não existiam sinais ou ele estava brincando comigo ou eu estava louca.
Seus amigos, na verdade o grupinho de pré-vestibulandos que se inseria, apoiavam muito o possível romance entre nós dois, sempre estavam citando que eu era uma opção perfeita para ele.
Escutar a música de Manu Gavassi não me trouxe a sensação de estar apaixonada, como estive em 2015. Relembrou-me que o meu garoto se tornou errado quando revelou, depois de quatro meses de flerte intensivo, que tinha namorada.
O meu garoto errado nem era meu. Ele tinha NA-MO-RA-DA.
E tinha flertado comigo durante tanto tempo.
A música da musa do BBB20 trouxe a preocupação real de ter me envolvido emocionalmente com um garoto errado.
O garoto errado não pode se tornar certo (pega essa antítese).
É isso:
Então me diz o que eu faço
Pra tentar te esquecer
Eu nem sei o que eu gosto
Tanto tanto em você
Seu sorriso é o seu jeitinho
De tentar me irritar
Se tiver uma maneira vou tentar evitar
Eu juro eu faço tudo para eu não me apaixonar