O que o bullying fez (comigo)
O ato de repensar a vida, e um caso de bullying envolvendo um cantor brasileiro em 2019, me fez querer escrever sobre isso. Já detalhei um pouco noutro texto, Ninguém é obrigado a gostar do seu próprio número de calça, que minha infância esteve impregnada de comentários ácidos relacionados à obesidade. Quando cheguei à adolescência, isso não foi aliviado, considerando que fui obrigada a usar aparelho fixo.
O bullying é um ato simples de violência repetida a uma pessoa indefesa, podendo causar dor física e/ou psicológicas. As marcas, queiram ou não, ficam para sempre em quem sofre.
As minhas ainda estão aqui.
Antes dos 10 anos, comecei a engordar, algo que somado aos meus cabelos volumosos e cacheados destacava o tamanho da minha bochecha. Foi então, que naquela época, aprendi a sentir vergonha do meu próprio corpo.
Teve um dia, brincava na rua de “pega-pegou” junto com uns vizinho e o primo de duas meninas que, naquele tempo, morava na casa perpendicular à casa dos meus pais. Era a minha vez de ser o “pega”, logicamente não conseguia correr tão rápido, mas estava me divertindo em participar da brincadeira sem ser “café com leite”. Foi quando ouvi o menino começar a gritar:
“BELINHA, BOLINHA! BELINHA, BOLINHA”
Odiei-o naquele momento, mas fiz nada. Já era fortemente inclinada a desgostar do nome que meu pai me registrara. O apelido de Isabelly era constantemente associado à cadelas, e era chamada e assobios de gozação:
“Belinha ‘txi, txi, txi’, Belinha”.
O bullying com o nome, é motivo pelo qual eu ODEIO (no presente) ser chamada desse jeito.
O segundo bullying fez com que a aversão sobre o meu corpo crescesse. Foi por causa dele que fiz tantas dietas malucas: comer apenas bolachas com requeijão e queijo coalho e teve até uma vez que passei três dias ingerindo apenas líquidos.
As marcas que ele deixou ainda doem.
O bullying me deixou insegura.
Escondida no quarto, penso que não tem como ter amigos, e que os que acreditava que tinha, se virariam contra mim e despejariam xingamentos referentes ao meu corpo e minhas necessidades.
O bullying me deixou tão mal que é absurdamente difícil ter um interesse amoroso.
Na sexta série (novo sétimo ano), era levemente muito apaixonada por um encrenqueiro. De mesma idade que eu, tinha a pele clara, cabelos escuros e revoltos, os dentes eram irregulares e a testa muito proeminente. Mesmo diante de toda a aparência não harmoniosa, arrumou uma forma de me atingir, caçoando das minhas costas largas, me chamando de “armário”. Fui associada ao guarda-roupas que dava acesso à Nárnia, do filme As Crônicas de Nárnia: o leão, a feiticeira e o guarda-roupas.
Depois desse dia, foi mais difícil confiar e acreditar que alguém teria interesse em mim.
Olhava-me no espelho, o que refletia era desproporcional, a bunda achatada, os seios enormes, os ombros mais largos que o quadril.
Já fui chamada de “bola de futebol americano” e “sorvete”. Essas palavras ficam impregnadas nos meus ouvido, multiplicando os esforços para manter as pernas grossas e o “bumbum na nuca”.
Sempre que alguém demonstra certo interesse, o que vivi quando criança volta às retinas e as vozes ressoam nítidas, como se tivessem acabado de serem ditas. Lágrimas rolam pelo rosto tornando ainda mais palpável a insegurança.
O que o bullying fez comigo é…
Só um pouquinho do que as crianças sofrem nas escolas, ruas, igrejas e até dentro de casa.
O bullying dói. A ofensa destrói. As marcas ficam…
Não esquece das palminhas, tá?
Ah, lê também as os outros textos da série fez (comigo)