Poder feminino: ajudando outras mulheres
A sociedade do século XXI grita aos quatro cantos: “lugar de mulher é onde ela quiser”, mas olha torto para aquela jovem que sonhou, batalhou e conseguiu se formar naquela profissão que diziam ser masculina, como, por exemplo, engenharia civil, educação física ou matemática. Vivemos numa cultura que valoriza o empoderamento de mulheres que são jornalistas, professoras e médicas, afinal são profissões aceitáveis, e que não apresentam esforço braçal.
Para a mulher, a batalha tem que ser dupla, porque além da luta na universidade, tem que lidar com o julgamento alheio:
Ela não é capaz.
Isso não é profissão de mulher.
Mulher não consegue fazer isso.
E vai lá e mostra que é tão boa quanto qualquer outra pessoa.
Na academia de musculação que frequento há alguns anos, no meio de seis personal trainers, só duas são mulheres, uma delas é esposa do proprietário. A outra, começou a trabalhar como estagiária e após um ano foi efetivada. Luciana, estudou educação física na mesma instituição em que fiz jornalismo, conversávamos sempre.
Passei algumas semanas indo treinar no começo do horário de trabalho dela, percebi que poucas pessoas tiravam dúvidas com ela, e as que faziam eram, quase em sua totalidade, mulheres. Mesmo conhecendo os outros dois professores, fiz questão de pedir o auxílio dela, o que em pouco mais de uma semana me mostrou que era uma profissional excepcional: focada, cuidadosa, prezando pelo individualidade do aluno.
“Oi, Luciana. Tu pode me ajudar aqui, sinto dor na lombar quando faço o stiff”, chamei.
“Vamos lá”, ela falou e foi comigo para ver a execução do exercício.
Peguei a barra com dez quilos de cada lado, me posicionei ereta e inclinei o meu tronco até sentir os músculos da posterior da coxa flexionado. Fiz o movimento seis vezes, abaixei para diminuir o peso e fazer mais oito repetições. Parei e olhei para Luciana que estava atenta com os braços cruzados, sorrindo falou:
“A execução está perfeita. Mas, você precisa contrair o abdômen, senão vai sobrecarregar a sua coluna.”
Repeti o stiff contraindo o abdômen e após a última execução minha coluna não estava doendo.
Após seis meses de recuperação pós-cirúrgica, voltei a musculação, pensando em pedir para o meu vizinho mais uma vez prescrever minha ficha de treino. Então, no quinto dia de academia, resolvi ir às 16:40, ou seja, 20 minutos antes do expediente de Luciana. Enquanto corria na esteira, ela colocava a farda. Às 17h, apareceu de tênis, calça preta e a camisa vermelha com o logotipo da academia e a palavra “professora”.
Decidi exercitar a sororidade.
Cheguei perto dela e falei:
“Luciana, tu tas fazendo consultoria?”
“Estou.”
“Pronto. Me dá teu contato que a gente vai combinar pra tu ser a minha treinadora.”
Sororidade, segundo o dicionário, é a união entre mulheres baseada no companheirismo e empatia. Decidir apoiar uma personal trainer é pouco, mas tem sido muito mais do que muitas mulheres do meu convívio tem feito, essas que tem dito:
“Eu não confio em mulher na educação física, ainda mais em quem nem tem o corpo definido.”
Empoderamento feminino começa nas pequenas escolhas.
Seja uma mulher que apoia outras mulheres.
Seja uma pessoa que sabe que “lugar de mulher é onde ela quiser”.
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