Quando me apaixonei…
Por meio dos livros podemos aprender muitas coisas, e fazemos isso várias vezes, sonhamos com romances, repetimos discussões e treinamos diálogos para quando a nossa cara metade chegar. Aos 15 anos já tinha devorado algumas centenas de produções literárias, já conhecia todos os tipos de amor e relações, sejam funcionais ou não. Estava pronta para qualquer situação, mesmo que aquelas falas só tivessem êxito porque, assim, o escritor quis.
Encontrei-o na academia, nós dois estávamos suados e vermelhos o bastante para não ter beleza nenhuma. Mesmo assim, eu não conseguia tirar os olhos dele. Provavelmente era unilateral, sentia que estava rolando uma química inegável. Não estava, mas sem trocarmos uma palavra sequer eu me apaixonei.
Queria malhar todos os dias, passava muito mais do que o permitido na esteira, bicicleta e no elíptico quando por algum motivo ele se atrasava. E olhe que nem o nome sabia. Fazia de tudo para que na hora dos treinos com peso, trocássemos algumas palavras. Pedia para revezar ou perguntava se estava com o halter de 12KG. Bolei um plano infalível para poder conhecê-lo.
Tínhamos uma colega em comum, não lembro bem o nome, mas sei que esteve envolvida numa infidelidade, engravidou e foi morar no Agreste. Fiz amizade com essa mulher para descobrir nome, idade e tudo mais que fosse interessante. Era dia de treino de inferiores, ignorei as recomendações do professor e fui para ao lado dela, fiz os mesmos exercícios que ela (mesmo não tendo maturidade muscular).
No fim dos exercícios, doía do glúteo à panturrilha. Eu estava escarlate, os cabelos cacheados, que ainda era livre de tintura, ficavam muito bagunçados e eriçados. Arfante, nos despedimos. No dia seguinte, ela estava conversando com o rapaz, eu o contemplava. Ele com aproximadamente 1,85m, pele clara, cabelo e olhos tão escuros como o céu noturno, sorria enquanto falava.
Depois que ele foi pagar seus exercícios, me aproximei dela e perguntei quem era:
“Muito bonito esse menino, né?” disse.
“É! E é bem novinho. Tem a idade do meu irmão mais novo.”
“Qual é a idade do teu irmão?”
“22!”
Eram sete anos de diferença, na época eu tinha acabado de debutar. Mas, isso não ia me impedir de flertar. A idade era só um número, né?
“E como tu conheceu aquele menino que estava conversando contigo?”
“Ah, foi aqui na academia.”
“E como é o nome dele?”
“André.”
Mais tarde quando cheguei em casa, me dei o trabalho de procurar em todas as redes sociais esse André, e olha que nem sabia algum sobrenome. Nesse momento, usei toda apuração intuitiva que aprendi três anos depois no curso de jornalismo. Dois dias depois, sem trocar mais que duas frases, encontrei seu facebook, instagram, twitter e histórico universitário. Só precisava estreitar laços para que o meu nome fosse conhecido.
De todos os livros que li, nenhum ensinava como abordar uma conversa na academia com duas pessoas suadas e de rosto ruborizado pelo esforço. Era preciso procurar o situação.
Depois desse dia, percebi que o momento certo é criado pela pessoa interessada. E, claramente, eu estava.
Observando bem percebi que ele sempre parava em frente da minha garrafa rosa. Então, pedindo para que ele se afastasse uma, duas, três ou mais vezes. Começamos a conversar, falei o meu nome. Descobri os seus gostos, os hobbies e sua paixão por desenho.
Ficamos próximos.
Minhas pernas tremiam, a boca secava e o estômago sacudia toda vez que via o seu sorriso perfeitamente alinhados. Ansiava para ficar pertinho dele. Se falava comigo, respondia na hora.
É isso! Estava apaixonada.
Não deu em nada. Hoje, superei e somos amigos.
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