Realizando o sonho de ser escritora?
Quando eu era apenas uma criança, contar uma história era algo extremamente excitante, embora naquela época não soubesse o significado dessa palavra, pois se passasse pela minha cabeça, teria usado sempre. Comecei a escrever o que se transformaria no meu primeiro livro na sexta série (tinha 12 anos), lembro até de Chica, professora de espanhol daquela ridícula escola que estudei durante três anos, perguntando sobre o que era. Resumindo, antes era uma distopia meio imitando aquele filme que a Jennifer Garner fez uma heroína vestida de vermelho.
Ainda bem que depois de ter escrito aquelas 110 páginas à mão naquele fichário rosa de borboleta, presente da minha mãe que sabia o medo que eu tinha daqueles lagartos voadores, joguei num saco e coloquei no lixo. Peço-me desculpas todos os dias por isso, pois mesmo sendo péssimo, mal escrito e com um enredo absurdamente genérico, só joguei fora porque minha avó havia me dito que:
“moça não escreve romance”.
Sinto-me ficar levemente deprimida todas às vezes que lembro de qualquer coisa sobre isso e o grande sonho que sempre tive. Sei que isso está sendo um começo bem louco, então vou explicar o que aconteceu e tentar solucionar o meu completo e profundo desejo de escrever um livro.
Aprendi a ler bem mais tarde do que o meu irmão, enquanto ele conseguiu fazer isso aos quatro anos, somei mais dois para conseguir. Comecei a ler uns livros ilustrados que eram brindes colecionáveis referentes a animações clássicas da Disney, como Tarzan, Bela e a Fera e O Rei Leão.
Como é a escrita o foco deste texto, e não a leitura, vou passar os primeiros 12 anos de vida e contar como comecei a escrever um livro e dramaticamente joguei fora alguns meses depois. Sinceramente, ainda bem que fiz isso, e dei-me alguns anos para aperfeiçoar uma obra-prima sem plágios ou imitações baratas.
Sempre gostei de escrever, desde que aprendi tive diários ou cadernos repletos de anotações sobre diversas aventuras românticas que sonhava em ter. Apresentei meu primeiro texto num quarto de acampamento para oito meninas de 12 anos e duas adultas, e uma delas me deu um incentivo sobrenatural para sonhar em ser uma escritora. Depois disso comecei a ler tudo que podia para melhorar o meu estilo de escrita. E escrevi. Desenfreadamente trabalhava na minha primeira ideia de livro a todos os momentos, fossem eles disponíveis ou não, afinal muitas vezes chamaram minha atenção na aula por prestar atenção apenas ao serviço.
Evitava falar para qualquer pessoa o que estava acontecendo, sempre que tinha o surto de criatividade, passava cada momento até a mente cansar escrevendo à luz da lanterna. Quando terminei, falei para a minha avó que as folhas preenchidas com meus “garranchos” eram na verdade o meu livro, mas ao invés dela ficar feliz, disse-me:
Nem faça isso. Moça não escreve livro, quem escreve livro é mulher do mundo.
Sabia tanto o que aquelas palavras significavam que pensei por muito tempo sobre, se queria ser mulher do mundo. Então, juntei cada uma das folhas, lendo cada uma daquelas palavras (percebendo que o final era um começo muito melhor do que as primeiras páginas), joguei num saco de lixo e coloquei no outro lado da rua para o caminhão da coleta levar.
Passei outros quatro anos apenas lendo muito. Tentava afogar a tristeza de não conseguir escrever. Isso até que uma professora de português do ensino médio, Aldenise Araújo, que passou a dar incentivos para me expressar pela escrita muitos mais amplos que o exercício de redação dissertativa-argumentativa para o vestibular. Foram durantes as conversas com ela que percebi que eu não seria menos respeitável se usasse a escrita como uma carreira. Graças a Aldenise, consegui escrever contos e crônicas, fui apresentada à escrita criativa, que é o estilo que mais uso até hoje.
Abandonei projetos e comecei outros e lembrei do final do primeiro livro que ousara escrever e decidi que aquele seria o meu começo. Abri um documento e comecei a fazer isso por mais de dois anos até que consegui terminar. A minha princesa era Vanessa Gabriely e agora é Regina Amery, o enredo deixou de ter um único personagem principal e passou a contar sobre irmãos e a tentativa de salvar o seu lar.
Finalmente, posso dizer que realizei meu maior sonho de ser uma escritora, embora pense que para realmente ser essa a minha profissão precise ser publicada. Portanto, sou uma aspirante a escritora em busca de uma editora para publicação. Como diz minha princesa favorita:
“eu tenho sim, um sonho sim”.
Logo, hoje posso entender que sou sim uma mulher do mundo, não segundo o dicionário da minha avó, e sim como uma pessoa que precisou amadurecer para imaginar um romance próprio. Queria poder dizer isso para a minha avó e mostrar que uma mulher pode sim escrever um livro.