Ter química é a cereja do bolo
Quando eu era criança, minha avó me doutrinava de acordo com os gostos dela para escolher um parceiro. Ela, que tinha casado com um policial, sempre expunha para o mundo o seu total apreço por homem fardado. Contando suas histórias passadas, quando ainda jovem havia se apaixonado por um militar.
“Ah, a paixão, minha filha. Você fica doida é muita química, como dizem!”, dizia ela.
Ainda de acordo com as suas informações, a paixão tem o poder de fazer com que as pernas tremam, as mãos ficam escorregadias de tanto suor, o coração salta no peito na velocidade de um carro de Fórmula 1 e a ansiedade domina para o reencontro.
Ou, parafraseando a frase icônica de Meninas Malvadas (2004):
“Eu estava obcecada, passava 80% do meu tempo falando sobre ele. E nos outros 20%, eu torcia para que alguém falasse sobre ele para eu poder falar mais.”
Direi que é paixão! Segundo o dicionário de língua portuguesa, esse adjetivo classifica um sentimento que pode mudar o nosso comportamento e ações. É um negócio de louco, né? No primeiro momento é de um jeito e no outro você se torna um Ted Mosby.
Costumo a dizer que existe uma Síndrome do Teodore Evelyn Mosby, personagem da sitcom How I Met Your Mother, aonde ele é protagonista e sempre que tem um interesse amoroso, muda o pensamento para que a moça passe a gostar dele. Essa é uma estratégia, mas não eficaz se você não pensa igual.
A verdade é que aprendemos em todos os lugares que se apaixonar é fácil. É bem parecido com o que é dito na música da banda recifense Sedutora: “me olhou, te olhei, paquerou, paquerei. Aí então bateu a química.” Assim, assistimos produções que os protagonistas se odiavam e o enredo se arrasta de uma forma que fiquem juntos no final. Enquanto, na vida real, não é apenas a atração que importa, mas o posicionamento de pensamento, o cuidado e, acima de tudo, respeito.
Ouso dizer que na paixão a química é apenas a cobertura do bolo. Embora o exterior atraía queremos saber se é mesmo gostoso.
Há anos ouvia sobre a existência de uma pessoa perfeita, atraente, opiniões convergentes, que se completariam. Mas, nem no meu mais perfeito enredo ousaria escrever isso. Seria como tirar a humanidade das pessoas, ao ponto que não descrevo o que as diferencia. A graça está em interagir com o distinto, ou seja, as brigas existem, como também a atração, mas as opiniões podem divergir. E é normal.
Já crescidos aprendemos que mesmo a pessoa seja fisicamente perfeita, o que ela guarda dentro pode não ter a mesma intensidade atrativa. E isso pode nos afastar, fazendo com que a paixão não exista porque vem com conversa, conhecimento do outro, compartilhamento de ideias.
Na paixão, afortunado é o casal que também tem química.
Então, minha querida avó que me desculpe, preciso de mais na hora de me apaixonar. Ainda por cima, amar.