Um palco de atemporalidade, humanização que nos diz que sempre há “Os Miseráveis”

Isabelly Emiliano
4 min readOct 13, 2020

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“Enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como estes não serão inúteis.”

Assim começa o clássico “Os Miseráveis”, a história contada em letras, filmes, músicas e minissérie televisiva. Esta é uma obra que deve ser conhecida por todos, provada por todas as classes sociais, o retrato das escolhas, do destino e do amor.

Os miseráveis — Isabelly Emiliano

São mais de 1000 páginas que contam a história de Jean Valjean, um miserável condenado, que teve sua vida mudada através de amor. Num ritmo novelesco, é possível conhecer o enredo de cada um dos personagens que impulsionou a vida do protagonista. É admirável, doloroso e humanizado, Victor Hugo deixou um legado há mais de 200 anos com essa obra que, além abordar o atemporal, fez uso de estilo inovador, tornando Os Miseráveis único.

Sempre vai existir miseráveis na terra, e isso independe de situação econômica. Claro que, a situação é ainda pior para quem não tem dinheiro, a isso conhecemos a situação inicial de Valjean; pobre, sem trabalho e faminto, carregando em suas costas sua irmã viúva e os muitos filhos dela. Precisou roubar para alimentar o bebê, um pão e foi condenado por anos.

O que seria dele então? A cadeia o transformou, retirou a sua humanidade e nome, lhe entregando o número 24601. Marcado para sempre, afinal somos conhecidos pelos nossos erros. Ele, embora livre, estava condenado a miséria de ser um “ex-presidiário”. Não conseguia emprego, cego pela injustiça social seria impelido a cometer o mesmo crime.

O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”, diz Jean-Jacques Rousseau.

Então começa a vida do homem, realmente uma que queria viver. É engraçado que sempre tem o ponto da vida que é possível dizer: “sinto que a minha vida começou naquele momento!” E, é possível que Hugo queira demonstrar isso na sua obra, antes do momento em que a alma de Valjean foi comprada pela bondade, a redenção, não havia individuo. Só é preciso de alguém que acredite no outro.

E, então, o amor pode mudar o mundo.

O livro rodeia muito por esse sentimento, mesmo que poucas vezes possa ser verdadeiramente percebido. Quantas vezes nos dispomos a nos sacrificar por quem nos cativa? Será que conseguiríamos viver uma vida de abnegação?

Se pudesse, ocuparia mais páginas do que o necessário para explicar o porquê todo ser humano deveria ler “Os Miseráveis”. Começarei por parte, primeiro como conheci o livro e o que me motivou a lê-lo:

Soube da obra muito mais tarde do que preferia, já devia ter mais de 18 quando assisti pela primeira vez, lançado em 1998 e protagonizado por Liam Neeson. Fiquei maravilhada, era um filme tão antigo, ainda assim tão atual e necessário. Vi o musical, chorei com a performance de Anne Hathaway como Fantine, mãe da filha adotiva de Jean Valjean.

Foi somente em 2020 que pensei em lê-lo, nenhum livro é igual ao filme, e com certeza, Os Miseráveis com mais de 1000 páginas teria muito a acrescentar. Foram quase 60 dias para poder terminá-lo. Uma obra como essa não deve se passar apenas os olhos, porque no meio de tudo isso nos dá lição de moral, nos ensina a olhar o outro e a temer os nossos erros.

Os personagens são perfeitamente explorados, na medida certa, dando importância aos que movem a vida do protagonista, como, toda a história trágica de Fantine, Cosette, Marius, Bispo de Digne e os Thernadier.

Os miseráveis — Isabelly Emiliano

O único ponto que me deixou um pouco chateada foi a politização maior do filme, esperava um enredo mais conceitual sobre a revolução, mas aquele só foi um pano de fundo para mais um dos sacrifícios do protagonista.

Por fim, a maior luta do homem é a sua própria consciência. Nada nos torna mais culpados do que acreditar nisso.

Se você, assim como eu, sente interesse por essa obra, leia com atenção e devagar e não ligue para o romance da época de Cosette e Marius, olhe nas entrelinhas. Veja a sociedade que você vive, vai perceber que não é tão distinta da que Victor Hugo conheceu em 1840.

Todos são miseráveis.

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Isabelly Emiliano
Isabelly Emiliano

Written by Isabelly Emiliano

Escritora muito antes de ser jornalista. Acabei de escrever um livro que precisa ser publicado. Enquanto o dia não chega, você pode ler alguns textos aqui.

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